Colonia Babado Novo

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Paolla Oliveira: O desbunde da bunda que chamou a atenção do Brasil



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Sinuosa, a bunda é uma armadilha a quem se arrisque interpretar a alma nacional recorrendo ao fetiche glúteo. Todavia, como disse um famoso pensador judeu, o fetiche é o comboio da verdade. E com a bunda não seria diferente. O País transpira ao vê-la passar.

Numa semana de notícias ruins, o Brasil provou-se mais uma vez adepto fervoroso de um monoteísmo em cujo altar suspende-se, sacra e profana, a bunda.
Masculino ou feminino, de cores e formas variadas, ensimesmado ou expansivo, o derrière voltou a comover a nação. De repente, falta d’água, crise de energia e corrupção na Petrobras não eram mais os assuntos discutidos. Imponente e angulosa, a bunda suavizou a barra, restituindo um pouco de vivacidade a um povo cuja alegria já caminhava para o terceiro volume morto.



Equilibrada em hemisférios perfeitos à luz quente da câmera televisiva, a atriz Paolla Oliveira, 32 anos, quebrou a Internet e mesmerizou a audiência na última terça-feira, quando um capítulo da minissérie Felizes para sempre? foi ao ar na TV Globo.

Nele, a personagem da atriz paulista atravessa, num trote elegante e cadenciado, uma sala frugal. O cenário: uma taça de champanhe, um sofá, um abajur e duas cortinas, que se afastam à passagem do vento e das mãos de Danny Bond, a prostituta de luxo vivida por Paolla.

Contratada para apimentar a relação de um casal em crise, Danny protagoniza uma das cenas mais sensuais da TV brasileira. Ali, a atriz injeta novo fôlego na autoestima da bunda nacional. Em baixa desde que a série de mulheres-fruta vulgarizou a região, coube a um homem a difícil tarefa de levar adiante o patrimônio de artistas como Rita Cadillac, Gretchen, Carla Perez e Sheila Carvalho.

Durante os jogos das copas do Mundo e das Confederações, Hulk foi o legítimo representante dessa linhagem superabundante. Fosse cobrando um escanteio ou chutando a gol, a bunda de Hulk falava por si – o seu futebol, não.

Tal qual um Garrincha com a bola nos pés, Paolla reabilitou a bunda-arte: sem hidrogel, adereços ou artificialismos. A bunda e a calcinha, apenas. Assunto mais pesquisado no Google, com 150 mil acessos na quinta-feira, o nome da atriz figurou como tópico obrigatório em qualquer roda de conversa. Não apenas os machos estavam interessados. A família brasileira examinava a bunda e suas circunstâncias.

Reação natural, Paolla Oliveira buscou refúgio. Assustada, evitaria a imprensa pelo restante da semana. Por que o reboliço?, a atriz talvez se perguntasse, enquanto os portais de notícias contabilizavam picos de acesso.

Feministas reclamaram da fetichização, vendo no episódio mais um exemplo do resíduo patriarcalista responsável por dividir o corpo em sesmarias e servi-lo em bandejas em programas de qualidade duvidosa. Por que a mulher ainda causava tanta comoção?

A minissérie, acusaram as mais radicais, tinha o indisfarçável propósito de reduzir a mulher a um par de nádegas tão perfeitas quanto um arco desenhado por Da Vinci. É bem possível que estejam certas, e a audiência histérica tenha passado dos limites.

Mas é possível também que o apego dos (as) brasileiros (as) à bunda seja mais ingênuo do supõem e essa comoção não passe de uma declaração enviesada de amor.

Talvez seja possível amar mais a bunda que o futebol ou o carnaval. Talvez não haja tanta maldade na canonização da bunda.

Fonte: Uol

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