Colonia Babado Novo

domingo, 3 de março de 2013

Aos 60 anos, Zico é taxativo: 'Minha maior alegria foi a Libertadores'



Aos 60 anos, Zico acumula vitórias e derrotas, alegrias e frustrações. Mas mata no peito qualquer assunto com a categoria que sempre exibiu em campo. Das decepções em Copas do Mundo às principais conquistas da história do Flamengo, do drama da perda do irmão à renovação com a vinda dos cinco netos e até a comparação com Maradona, o Galinho responde a todas as perguntas como se conversasse com velhos amigos. À beira da terceira idade, poucas coisas assustam ou seduzem o eterno camisa 10, que jamais perderá a majestade.
MEDO DE ENVELHECER
Não tenho medo de envelhecer. A gente tem medo de uma morte prematura. Quando você começa a ter outras alegrias na vida... A idade da sabedoria vai chegando e lógico que hoje você tem prioridades. Você tem uma família estruturada, com cinco netos e que ter uma vida gostosa ao lado deles. Você passa a ter mais medo de avião e de qualquer risco que possa correr.

MAIOR SAUDADE
Principalmente dos treinamentos. Eu ia feliz para o Flamengo. Quando hoje vou para uma academia, uma caminhada na praia ou venho aqui (CFZ) jogar pelada, faço feliz porque a bola sempre foi o grande brinquedo da minha vida. A única coisa que não gostava era de correr, subir morro, correr longas distâncias. Gostava mais de fazer velocidade e arrancada, que eu usava mais nos jogos.

FUTEBOL ATUAL
Acho que falta comprometimento do cara querer evoluir para ajudar a equipe. Muita gente fala que eu só treinava faltas, lembra a coisa das camisas. Mas falta era apenas um dos dias. Também treinava finalização, arrancada sozinho, passe, pegava outros companheiros para treinar cruzamentos. No período que tive no Flamengo (como diretor), via que o treino acabava e o cara estava doido para ir para casa. Futebol é atividade-fim para todos. O cara não pode ter outro compromisso fora dali.

ALEGRIAS E TRISTEZAS
O meu momento mais feliz no futebol foi a conquista da Libertadores, contra o Cobreloa (1981). Jogávamos contra tudo e contra todos. Foi a vitória da arte sobre a violência. Um momento triste foi a não ida para a Olimpíada em 1972. Só não parei de jogar porque tive dois irmãos que me incentivaram. Na vida, o mais marcante foi o meu casamento, e o mais triste, a perda de meu irmão mais velho, o Antunes, com 51 anos. Ele foi o meu segundo pai, me educou e orientou.

UM JOGO, UM GOL, UM MOMENTO
Cobreloa. O gol, foi o segundo, de falta, que decidiu esse jogo. Foi o gol que comemorei com mais entusiasmo. Outro momento importante foi o de jogar pelos profissionais do Flamengo. Mas concretizar o sonho de jogar com a 10 foi especial. Não sei qual foi o jogo que vesti a camisa 10 pela primeira vez, mas vou descobrir. Comecei com a 9. Na época, Fio Maravilha era o 10, meu grande amigo. Ele me ajudou muito no início. No ano seguinte, veio Doval.

COMO SERIA O FLA SEM O ZICO
Não podemos levar em conta o ‘se’. Tive a oportunidade de crescer com jogadores de muita qualidade. É lógico que a importância era pelo que eu representava. Muitos ficavam tranquilos porque a responsabilidade maior era minha. E sempre assumi essa responsabilidade. Minha participação como líder é muito maior do que a de jogador. Na hora de jogar, de treinar... Os outros tinham de vir atrás. Os resultados apareciam. A preocupação existia até na hora de renovar um contrato. Tinha de levar para cima para todos virem atrás.

ZICO E FLA SE CONFUNDEM?
Muita gente chega e diz que não sabe se torce mais para mim ou para o Flamengo. Isso é sinal de confiança. Sempre assumi essa pressão. Só cobram de quem pode dar alguma coisa. Num período curto, de 78 a 83, conquistamos mais títulos do que o Flamengo havia conquistado na história. Fui tirar uma foto na Gávea e separaram os troféus que participei. Não tenho noção daquilo. Foi um período de alegria para muita gente. Fiz um teste de bafômetro e o rapaz disse que teria de fazer o exame no cara que lhe deu mais alegria na vida. É legal, gratificante, mas deu zero (o teste). Um zero que a gente tira com satisfação (risos).

AMBIÇÕES
Não tenho. É família, dar uma atenção maior aos netos que não pude dar aos filhos. O projeto da escola Zico 10 está bem desenvolvido no Brasil inteiro. São mais de 40 mil crianças. E só pode participar quem tem notas boas. É uma gota d’água no oceano, mas a gente está dando uma ajuda à sociedade. Eu quero poder fazer com que através do futebol as crianças se motivem a estudar.

APOSENTADORIA OU DESCANSO
Se for uma coisa muito boa, que me dê prazer, eu voltaria. Mas tem que ser num bom centro e num lugar que a gente pudesse fazer um trabalho com início, meio e fim.

FUNÇÃO NO FLAMENGO
Nada, apenas na amizade. Não tenho compromisso. Precisou de mim, estou disposto a ajudar no que for possível.

HERANÇA DA ANTIGA GESTÃO
Eu já os tinha alertado: ‘Vocês vão ver mais coisas do que estavam esperando. Mas uma coisa vocês não têm que perder de vista: o time do Flamengo não fica a dever a muitos desses que estão aí. Se vocês conseguirem a credibilidade deles, mostrar que as coisas vão estar em dia, principalmente salário e direito de imagens, vão ter um outro retorno dentro de campo. Agora, tentem cumprir isso que não estava acontecendo. Já é meio caminho andado’.

COPA DO MUNDO FAZ FALTA?
Se não perguntarem, nem em sonho me lembro. Estou sempre dando entrevista sobre isso. Sou muito bem resolvido porque disputei. Perdemos, faz parte do jogo. Mas se tem um gol que gostaria de ter feito é o de empate contra a Itália (1982). Aquela Seleção merecia ter disputado o título. Contra a França (1986), empatamos. Nos pênaltis, muitas vezes as coisas não acontecem como a gente quer.

OUTRA DERROTA EM 1998
Crítica é crítica, você tem que saber separar bem. Não me preocupo com isso. Cheguei em março com a Copa sendo em junho e fomos vice. O trabalho foi feito. Eu e o Paixão (Paulo, preparador físico) chegamos para apagar muitos incêndios. O que era para fazer a gente fez. Continuo dizendo: não tenho dúvidas que, se não acontecesse o problema do Ronaldo no dia da final, o resultado seria outro, a forma de o Brasil jogar seria outra. Esse caso que aconteceu foi complicado para a Seleção. Aquele problema gerou uma apatia, uma intranquilidade que, talvez se fosse na véspera, seria solucionado com mais facilidade.

AINDA PENSA EM SELEÇÃO?
Claro, mas não como técnico. Acredito que para ser técnico da Seleção o cara tenha que estar trabalhando no Brasil. Como nunca trabalhei no Brasil, não acharia justo meu nome ser ventilado para técnico da Seleção. Se fosse uma coisa diferente, seria para analisar no momento.

MAIOR RIVAL
O meu maior rival foi o Vasco. No nosso período era quem disputava as decisões. Era um perde-ganha danado. Creio que isso motivou o futebol carioca pela forma que eu me encontrava no Flamengo e o Roberto no Vasco. Nunca fomos inimigos. Somos grandes amigos.

ZICO OU MARADONA
O Maradona era fera, foi o melhor jogador da minha geração. Acho mesmo.

PRESSÃO POR NOVO ZICO
Lógico que há. Como qualquer afro-descendente que vista a camisa da Seleção é o novo Pelé, qualquer um com a camisa 7 do Botafogo é o Garrincha... Daqui a pouco qualquer goleiro no São Paulo será o novo Rogério Ceni. São jogadores que se identificam muito com os seus clubes. É normal, mas procuro exterminar isso para não dar pressão para ninguém. (O Dia)

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