Exatos 65 anos após a votação nas Nações Unidas que determinou a partilha da Palestina e levou à fundação de Israel, os palestinos vão nesta quinta-feira (29) à organização em busca de reconhecimento que também conduza à independência.
Os palestinos pedirão à Assembleia-Geral da ONU que eleve o status de sua representação atual, de entidade observadora para Estado observador não membro.
Fortemente contrário à iniciativa palestina, mas ciente de que ela deve ser aprovada com expressiva maioria, o governo de Israel tenta “reduzir os danos”, disse à Folha o porta-voz do Ministério do Exterior, Yigal Palmor.
Ele confirmou que Israel articula com os EUA a adição de elementos no texto a ser votado na ONU para evitar problemas futuros. Entre eles, o compromisso dos palestinos de que não recorrerão ao Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, contra Israel.
Além disso, o governo israelense quer que a resolução deixe claro que o conflito só poderá ser resolvido por meio de negociações.
Cadeira usada na propaganda por um lugar para a Palestina entre membros da ONU, em setembro do ano passado
O novo status não significa o reconhecimento do Estado palestino. Pelo direito internacional, o reconhecimento de Estados não se dá na ONU, mas por outros países. Ainda assim, é uma vitória da diplomacia palestina.
Desde a entrada na ONU, em 1974, os palestinos são representados pela Organização para Libertação da Palestina (OLP), que tinha o status de entidade observadora. Agora, serão elevados a Estado observador.
É menos do que foi tentado no ano passado, quando a proposta de que a Palestina fosse aceita como membro pleno da ONU foi vetada no Conselho de Segurança.
O status de Estado observador, semelhante ao do Vaticano, não garante direito a voto. Mas a liderança palestina conta com ele para poder se filiar a agências multilaterais, ampliar a ação diplomática e fortalecer sua posição internacional diante de Israel.
“A votação na ONU dará início a um processo histórico de redenção e na Palestina”, disse em Ramallah Hannan Ashrawi, membro do comitê executivo da OLP.
Os palestinos dizem que recorreram à ONU porque Israel continua ampliando os assentamentos em território ocupado e não está interessado em negociar uma solução. Israel os acusa de violar os acordos assinados com uma ação unilateral.
Placar
O suspense nas últimas horas, além do texto da resolução, foi saber quantos países acompanharão os EUA no minúsculo grupo que vota não. A expectativa é que a resolução seja aprovada com entre 150 e 170 votos dos 193 da Assembleia-Geral.
Na União Europeia, a França saiu na frente ao declarar seu voto favorável, mas não se chegou a um consenso no bloco. Na quarta-feira (28), Espanha, Portugal e Dinamarca seguiram o exemplo francês.
A Alemanha, maior país do bloco, votará contra. A grande dúvida é o Reino Unido, que balançou entre o sim e o não, mas declarou um apoio sob condições.
Para o presidente palestino, Mahmoud Abbas, a iniciativa na ONU é um sopro de oxigênio, depois que seu rival, o grupo islâmico Hamas, saiu fortalecido politicamente da miniguerra travada com Israel em Gaza.
Os islamitas, que não reconhecem Israel, estão divididos. O plano aprovado em 29 de novembro de 1947 dividiu a Palestina entre um Estado árabe e um judeu.
Os líderes judeus aceitaram e fundaram Israel. Mas a liderança árabe rejeitou o plano e declarou guerra, reivindicando toda a Palestina.

Fonte: Folha